domingo, 1 de janeiro de 2006

traduções livres minhas

Então queres ser um escritor?
se não sair de ti explodindo
apesar de tudo,
não o faças.
a menos que saia sem perguntar do teu
coração e da tua cabeça e da tua boca
e das tuas entranhas,
não o faças.
se tens que sentar por horas
olhando a tela do teu computador
ou curvado sobre a tua
máquina de escrever
procurando palavras,
não o faças.
se o fazes por dinheiro ou
fama,
não o faças.
se o fazes porque queres
mulheres na tua cama,
não o faças.
se tens que te sentar e
reescrever uma e outra vez,
não o faças.
se dá trabalho só pensar em fazê-lo,
não o faças.
se tentas escrever como algum outro escreveu,
não o faças.
se tens que esperar para que saia de ti
a gritar,
então espera pacientemente.
se nunca sair de ti a gritar,
faz outra coisa.
se tens que o ler primeiro à tua mulher
ou namorada ou namorado
ou pais ou a quem quer que seja,
não estás pronto.
não sejas como muitos escritores,
não sejas como milhares de
pessoas que se consideram escritores,
não sejas estúpido nem enfadonho e
pedante, não te consumas com auto-
-devoção.
as bibliotecas de todo o mundo têm
bocejado até
adormecer
com os da tua espécie.
não sejas mais um.
não o faças.
a menos que saia da
tua alma como um míssil,
a menos que o estar parado
te leve à loucura ou
ao suicídio ou homicídio,
não o faças.
a menos que o sol dentro de ti
te esteja a queimar as tripas,
não o faças.
quando chegar mesmo a altura,
e se foste escolhido,
vai acontecer
por si só e continuará a acontecer
até que tu morras ou morra em ti.
não há outra forma.
e nunca houve.
(Charles Bukowski)
(tradução livre de Fabio Rocha em 20 de abril de 2013, baseada no original em inglês)
***
RIMA XLII – Gustavo Adolfo Bécquer
Cuando me lo contaron sentí el frío
de una hoja de acero en las entrañas;
me apoyé contra el muro, y un instante
la conciencia perdí de dónde estaba.
Cayó sobre mi espíritu la noche,
en ira y en piedad se anegó el alma.
¡Y entonces comprendí por qué se llora,
y entonces comprendí por qué se mata!
Pasó la nube de dolor…. Con pena
logré balbucear breves palabras…
¿Quién me dio la noticia?… Un fiel amigo…
Me hacía un gran favor… Le di las gracias.
*
RIMA XLII
Quando me contaram, senti o frio
de uma lâmina de aço nas entranhas;
me apoiei no muro e, por um instante,
perdi a consciência de onde estava.
Caiu sobre mim o espírito da noite,
em ira e em piedade se afogou a alma.
E então, entendi porque se chora,
e então, entendi porque se mata!
A nuvem de dor passou… Tristemente
consegui balbuciar breves palavras…
Quem me deu a notícia? Um amigo fiel…
Me fazia um grande favor… Agradeci-lhe.
(Gustavo Adolfo Bécquer – tradução livre de Fabio Rocha)
***
Um Coração Perdido e Encontrado
Se não há lua cheia no céu
Como é possível ver o reflexo no lago?
Se o tigre tem garras afiadas,
Como é possível não usá-las?
Como poderíamos assar nosso pão
Se não houvesse fogo?
Com a morte do Karmapa, nos tornamos mais sensíveis e devotos.
É verdade.
Aqueles que nunca choraram em suas vidas, chorem desta vez,
E suas lágrimas derramadas regarão a terra
Então poderemos produzir mais flores e verduras.
*
A Heart Lost and Discovered
If there is no full moon in the sky,
How is it possible to see the reflection in the pond?
If the tiger has sharp claws,
How is it possible not to use them?
How could we bake our bread
If there were no fire?
At the death of the Karmapa we become softened and devotional.
It is true.
Those who have never cried in their lives, cry this time,
And shed tears that will water the earth
So we can produce further flowers and greenery.
Uma flor sempre está feliz
Uma flor sempre está feliz porque é bonita.
Abelhas cantam suas canções de solidão e pranto.
Uma cachoeira está ocupada correndo pro oceano.
Um poeta é soprado pelo vento.
Um amigo sem dentro ou fora
E uma rocha nem alegre nem triste
Estão vendo a lua crescente do inverno
Sofrendo com o vento afiado.
*
A flower is always happy
A flower is always happy because it is beautiful.
Bees sing their song of loneliness and weep.
A waterfall is busy hurrying to the ocean.
A poet is blown by the wind.
A friend without inside or outside
And a rock that is not happy or sad
Are watching the winter crescent moon
Suffering from the bitter wind.
***
Poema 20
Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Escrever, por exemplo: “A noite está estrelada,
e piscam, azuis, os astros, ao longe”.
O vento da noite gira no céu e canta.
Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Eu a quis, e às vezes ela também me quis.
Nas noites como esta,  tive-a entre meus braços.
Beijei-a tantas vezes sob o céu infinito.
Ela me desejou, e às vezes eu também a desejava.
Como não ter amado os seus grandes olhos fixos.
Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Pensar que não a tenho. Sentir que a perdi.
Ouvir a noite imensa, mais imensa sem ela.
E o verso cai na alma como no pasto o orvalho.
Que importa que o meu amor não pudesse guardá-la?
A noite está estrelada e ela não está comigo.
Isso é tudo. Ao longe alguém canta. Ao longe.
Minha alma não se conforma por havê-la perdido.
Como que para aproximá-la, meu olhar a procura.
O meu coração a procura, e ela não está comigo.
A mesma noite que faz branquejar as mesmas árvores.
Nós, os de então, já não somos os mesmos.
Já não a desejo, é verdade, mas como a desejei…
Minha voz buscava o vento para tocar seu ouvido.
De outro. Será de outro. Como antes dos meus beijos.
Sua voz, seu corpo claro. Seus olhos infinitos.
Já não a desejo, é verdade, mas talvez a deseje…
É tão curto o amor, e tão longo o esquecimento…
Porque em noites como esta tive-a entre meus braços,
minha alma não se conforma por tê-la perdido.
Embora seja a última dor que ela me causa,
e estes sejam os últimos versos que eu lhe escrevo.
Pablo Neruda )
(Tradução livre de Fabio Rocha e Luis Cubas Vivanco, do livro Pablo Neruda – poemas para recordar – Selección de Óscar Hahn, 4a edição. Santiago do Chile: Fundación Pablo Neruda, Outubro de 2012, ps. 15 e 16 – poema original do livro “Veinte poemas de amor y una canción desesperada” (é o poema 20). Enviado como imagem pela leitora Tirene Pavanelli)

***


RIMA LIX
Eu sei qual é o objeto
de teus suspiros;
eu conheço a causa de tua doce
secreta languidez.
Tu ris?… Algum dia
saberás, menina, por que.
Tu suspeitas,
e eu sei.
Eu sei quando tu sonhas,
e o que vês nos sonhos;
como em um livro, posso ler
o que calas.
Tu ris?… Algum dia
saberás, menina, por que.
Tu suspeitas,
e eu sei.
Eu sei por que sorris
e choras ao mesmo tempo;
eu penetro nos vãos misteriosos
da tua alma de mulher.
Tu ris?… Algum dia
saberás, menina, por que;.
enquanto tu sentes demais e nada sabes,
eu, que já não sinto, tudo sei.
(Gustavo Adolfo Bécquer - tradução livre de Fabio Rocha)
*
RIMA LIX
Yo sé cuál el objeto
de tus suspiros es;
yo conozco la causa de tu dulce
secreta languidez.
¿Te ríes?… Algún día
sabrás, niña, por qué.
Tú acaso lo sospechas,
y yo lo sé.
Yo sé cuándo tú sueñas,
y lo que en sueños ves;
como en un libro, puedo lo que callas
en tu frente leer.
¿Te ríes?… Algún día
sabrás, niña, por qué.
Tú acaso lo sospechas,
y yo lo sé.
Yo sé por qué sonríes
y lloras a la vez;
yo penetro en los senos misteriosos
de tu alma de mujer.
¿Te ríes? … Algún día
sabrás, niña, por qué;
mientras tú sientes mucho y nada sabes,
yo, que no siento ya, todo lo sé.


(Gustavo Adolfo Bécquer - fonte)

***



ODE AO DIA FELIZ
DESTA vez deixa-me
ser feliz,
nada aconteceu a ninguém,
não estou em parte alguma,
acontece somente
que sou feliz
pelos quatro lados
do coração, andando,
dormindo ou escrevendo.
O que vou fazer, sou
feliz.
Sou mais inumerável
que o pasto
nas pradarias,
sinto a pele como uma árvore rugosa
e a água abaixo,
os pássaros acima,
o mar como um anel
em minha cintura,
feita de pão e pedra, a terra
o ar canta como um violão.
Tu ao meu lado na areia,
és areia,
tu cantas e és canto,
o mundo
é hoje minha alma,
canto e areia,
o mundo
é hoje tua boca,
deixa-me
em tua boca e na areia
ser feliz,
ser feliz porque sim, porque respiro
e porque tu respiras,
ser feliz porque toco
teu joelho
e é como se tocasse
a pele azul do céu
e seu frescor.
Hoje deixa-me
a mim só
ser feliz,
com todos ou sem todos,
ser feliz
com o pasto
e a areia,
ser feliz
com o ar e a terra,
ser feliz,
contigo, com tua boca,
ser feliz.
Pablo Neruda )
Poema “Oda al día feliz” de Pablo Neruda, escrito em Isla Negra. Publicado em “Odas elementales”, em 1954. Tradução livre de Fabio Rocha.
*
ODA AL DÍA FELIZ (original)
ESTA vez dejadme
ser feliz,
nada ha pasado a nadie,
no estoy en parte alguna,
sucede solamente
que soy feliz
por los cuatro costados
del corazón, andando,
durmiendo o escribiendo.
Qué voy a hacerle, soy
feliz.
Soy más innumerable
que el pasto
en las praderas,
siento la piel como un árbol rugoso
y el agua abajo,
los pájaros arriba,
el mar como un anillo
en mi cintura,
hecha de pan y piedra la tierra
el aire canta como una guitarra.
Tú a mi lado en la arena
eres arena,
tú cantas y eres canto,
el mundo
es hoy mi alma,
canto y arena,
el mundo
es hoy tu boca,
dejadme
en tu boca y en la arena
ser feliz,
ser feliz porque si, porque respiro
y porque tú respiras,
ser feliz porque toco
tu rodilla
y es como si tocara
la piel azul del cielo
y su frescura.
Hoy dejadme
a mí solo
ser feliz,
con todos o sin todos,
ser feliz
con el pasto
y la arena,
ser feliz
con el aire y la tierra,
ser feliz,
contigo, con tu boca,
ser feliz.


Pablo Neruda )

*

“Fui à floresta porque queria viver deliberadamente, encarar apenas os fatos essenciais da vida, e ver se eu poderia aprender o que ela tinha a ensinar, e não, quando eu vier a morrer, descobrir que nunca vivi. Eu não desejei viver o que não era vida, estar vivendo me é tão caro; nem desejei praticar a resignação, a menos que fosse necessário. Eu queria viver profundamente e sugar toda a essência da vida, viver tão robustamente tal qual um espartano e jogar fora tudo o que não era vida (…)”

(Henry David Thoreau)
“I went to the woods because I wished to live deliberately, to front only the essential facts of life, and see if I could not learn what it had to teach, and not, when I came to die, discover that I had not lived. I did not wish to live what was not life, living is so dear; nor did I wish to practice resignation, unless it was quite necessary. I wanted to live deep and suck out all the marrow of life, to live so sturdily and Spartan-like as to put to rout all that was not life, to cut a broad swath and shave close, to drive life into a corner, and reduce it to its lowest terms, and, if it proved to be mean, why then to get the whole and genuine meanness of it, and publish its meanness to the world; or if it were sublime, to know it by experience, and be able to give a true account of it in my next excursion.” fonte

Nenhum comentário: